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Quem falou que dívida não vale a pena?

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    Lucas Oliveira
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Ouvimos o tempo todo que bom mesmo é não ter dívidas, bom mesmo é não dever nada a ninguém, bom mesmo é ganhar nosso salário suado no fim do mês e não ter risco do banco bater em nossa porta tomando tudo. Mas deixa eu te contar uma coisa... quase toda empresa ou empresário possui dívida. Porque será que quem tem dinheiro de verdade, tem dívida? Spoiler alert: porque dívida pode ser bom! Lembra do meu mantra? Tudo depende.

Nossa, Lucas... como assim? Isso vai contra tudo o que me ensinaram...

Pois é, mas quem ensinou quem te ensinou? No Brasil não temos a cultura de ensinar sobre dinheiro, então tudo o que foi ensinado e passado geração a geração reflete casos específicos que marcaram muito algumas pessoas. Todo mundo conhece a história de alguém que "gastou tudo em cachaça, logo cachaça é ruim". Mas com a cachaça, todo mundo sabe que o problema foi a falta de autocontrole. Porque com a dívida o problema é a dívida?

Para que serve dívida?

A dívida na verdade é uma consequência da necessidade se angariar dinheiro para fazer alguma coisa que nos interessa. Podemos angariar dinheiro de outras pessoas (doações, crowdfunding, investimentos-anjo, dentre outros) sem fazer dívida per-se ou de nós mesmos (do futuro 🔮) fazendo a dívida. Mas para qualquer forma de angariação dessas, existem custos.

Quando pegamos dinheiro dos outros, normalmente precisamos pensar numa proposta ou justificativa. E isso normalmente dá bastante trabalho, envolve convencer pessoas e sempre custa uns trocados (nem que seja o custo do papel e impressão daquela velha rifa ou o custo de sair na rua pedindo dinheiro). Mas quando pegamos dinheiro de nós mesmos (do futuro 🔮), seja com um simples parcelamento sem juros seja fazendo um empréstimo, não precisamos dar muita explicação. Os bancos não querem muito saber o que você vai fazer com o dinheiro, desde que pague os custos associados a isso, os tais juros, taxas e afins.

E podemos fazer dívida para tanta coisa legal: comprar uma casa, comprar um carro, fazer reformas, fazer uma viagem, ficar bem de saúde, comprar eletrônicos, eletrodomésticos, presentes... enfim, podemos ser bastante criativos.

Bem... isso tudo se aplica a pessoas como eu e você, mas as grandes empresas perceberam uma coisa sensacional. E é aí que se esconde o pulo do gato.

Como a dívida por ser boa para mim?

O que as grandes empresas perceberam é que quando você está gastando apenas o seu próprio dinheiro, você se limita ao que você consegue pagar (pensa nas parcelas daquela geladeira que precisam caber no seu salário). Mas quando você (tendo dinheiro - super importante) recorre a empréstimos, não precisa mais gerenciar o que cabe no salário, precisa apenas gerenciar como cada porção de dinheiro cresce. Se o seu dinheiro investido cresce mais rápido que a dívida, você pode usar esse dinheiro a mais para coisas que antes não era possível.

Talvez esse exemplo acima tenha ficado um pouco genérico, então deixa eu tentar dar um pouco de cor.

Lucas fez um financiamento de 100 mil reais com juros de 10% ao ano. Lucas tem 100 mil reais para quitar o financiamento, mas percebeu que existe um título do tesouro direto prefixado que paga 15% ao ano sobre qualquer valor investido. Ao não quitar o financiamento e investir no tesouro direto, Lucas ganha 5 mil reais (números arredondados) por ano sem fazer nada. Não tenho certeza, mas acho que 5 mil reais a mais no orçamento nunca foi algo ruim para ninguém 😁.

No caso das empresas, esse investimento pode ser feito inclusive nelas mesmas caso elas acreditem (muito) que vão crescer mais que a taxa de juros. E elas (com suas equipes de gestores, contadores, consultores) acabam entendendo os juros como um gasto (como o Netflix, a pizza ou a noitada sagrada de sexta).

Esse processo todo se chama alavancagem financeira.

Uma segunda vantagem, que pode ser um pouco mais difícil de visualizar, tem a ver com o gerenciamento de risco. É muito melhor colocar o dinheiro dos outros nas coisas do que o nosso próprio, porque ficamos com a opção de gerenciar da forma que acharmos melhor. Imagina que você tinha 100 mil, usou cada centavo para comprar uma casa, e logo depois o pneu do seu carro fura.

Certeza que isso está certo?

Lembra do meu mantra? Tudo depende.

  • Se você não tem uma reserva suficiente para quitar pelo menos boa parte da sua dívida, provavelmente a dívida não é para você.
  • Se você não tem orçamento suficiente para pagar as prestações (gosto de me planejar sempre pela maior) e ainda sobrar um pouco para aumentar sua reserva financeira, provavelmente a dívida não é para você.
  • Se você não tem a disposição para gerenciar taxas de juros (correr atrás de negociar taxas melhores, ficar antenado por taxas mais competitivas no mercado, e afins), provavelmente a dívida não é para você.
  • Se você costuma ouvir "não" dos bancos quando pede empréstimo/financiamento, provavelmente dívida não é para você.
  • Se você não sabe construir e/ou manter um planejamento financeiro, vamos conversar 😉. Pode ser que a dívida possa turbinar seu patrimônio de formas inimagináveis!