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Como ganhar dinheiro de verdade com o Tesouro Direto?

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    Lucas Oliveira
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TL;DR (Resumo)

Plataforma para emprestar dinheiro ao Governo Federal, com baixo risco e retornos moderados. Apresenta opções associadas a variados índices (eg. Inflação, SELIC, IGP-M) e formas de pagamento (Vencimento, Semestral, Mercado Secundário).

O que é?

O Tesouro Direto é um Programa do Tesouro Nacional desenvolvido em parceria com a B3 para venda de títulos públicos federais para pessoas físicas, de forma 100% online.

Lançado em 2002, o Programa surgiu com o objetivo de democratizar o acesso aos títulos públicos, permitindo aplicações a partir de R$ 30,00.

O Tesouro Direto é uma excelente alternativa de investimento pois oferece títulos com diferentes tipos de rentabilidade (prefixada, ligada a inflação, taxa de juros básica da economia - Selic, etc), diferentes prazos de vencimento e também diferentes fluxos de remuneração. Com tantas opções, fica fácil achar o título indicado para realizar seus objetivos!

É seguro?

Os investimentos em títulos públicos, por meio do Programa Tesouro Direto, são 100% garantidos pelo Tesouro Nacional. Isso significa que é muito dificil que você não receba o seu dinheiro de volta.

Apesar de saber que isso nunca aconteceu no Brasil (para investidores nacionais), algumas pessoas gostam de entender em que condições isso poderia acontecer. Basta olhar ao redor do mundo alguns exemplos [^1]:

  • Em 2022, Rússia deu calote nos detentores estrangeiros dos títulos da sua dívida [^2];
  • Argentina em 2001, 2014 e 2020 - Quando o assunto é default soberano, poucos países são tão lembrados quanto a Argentina. Ao todo, já foram nove moratórias, sendo que a de 2001 é considerada uma das maiores da história do país.
  • Líbano em 2020 como uma consequência da perda de confiança da população no sistema político e bancário, que desencadeou corrida aos bancos (para saques) e uma revolução em 2019 no país.
  • Grécia em 2015 em consequencia a crise financeira mundial de 2008;
  • Rússia em 1998 por conta da forte saída de capital do país em virte de crise política, crise dos Tigres e tentativas de golpe militar.
  • Brasil em 1987 deixou de pagar investidores estrangeiros pela falta de recursos na freada do "milagre econômico".

[^1] O que é default, e o que acontece com quem dá o chamado “calote”?

[^2] Rússia dá calote em dívida externa pela primeira vez em mais de um século

Portal do Investidor - Como funciona?

Mesmo sendo um canal de acesso direto e simplificado, o Tesouro Direto requer uma conta em corretora ou banco credenciada (quase todas).

Outros mecanismos (eg investimento via Pix) estão sendo discutidos e devem ser disponibilizados em breve.

Mas vamos ao que interessa... Como que ganhamos dinheiro com isso?

Além da tradicional forma de "esperar o vencimento", o Tesouro Direto permite a venda antecipada dos títulos diretamente ao governo sem burocracia ou riscos desnecessários. Existem poucos outros investimentos (atrelados a juros, como CDBs) que permitem esse tipo de coisa sem a necessidade de um mercado secundário (que em geral é nebuloso e arriscado).

Ao recomprar os títulos, o Governo paga o valor do título daquele momento. Sendo assim, o segredo é saber comprar e vender os títulos na hora certa.

O preço dos títulos do Tesouro sobem ou descem quando os juros sobem ou descem, de forma inversamente proporcional. Ou seja, quando os juros dos títulos sobem, o preço deles diminui e vice-versa. Esse cálculo, para fluxos de pagamento simples (com um pagamento só), é tão direto quanto

P=Valor de Refereˆncia(1+Juros Anualizados)Tempo em Anos ateˊ o VencimentoP = \frac{\text{Valor de Referência}}{{(1+\text{Juros Anualizados})}^{\text{Tempo em Anos até o Vencimento}}}

O valor de referência é quanto você receberá no vencimento do seu título. Para títulos prefixados, o valor de referência é R$ 1.000,00. Para títulos pós-fixados, este valor, que em uma data de referência também foi R$ 1.000,00, é corrigido pelo índice em questão.

Já percebeu qual é o pulo do gato?

O que o mecanismo de precificação do título nos fala, basicamente, é que quanto maior o juro contratado e quanto mais longe está o vencimento dele, menor o preço do papel. Logo... momentos em que a taxa de juros básica está muito alta, e prestes a cair, são ótimos para se comprar títulos, em especial aqueles com o vencimento loooonge.

Ainda não acredita? Vamos as contas!

Em geral, o Tesouro disponibiliza títulos prefixados com vencimentos para 2 a 6 anos e títulos pós-fixados com vencimentos para 6 a 25 anos. Imagine que compramos um título pós-fixado, atrelado ao IPCA, com juros de 7% ao ano e vencimento para 25 anos. O preço dele será

Pcompra=Valor de Refereˆncia(1+7%)25=18,42% do Valor de Refereˆncia\begin{align*} P_{\text{compra}} &= \frac{\text{Valor de Referência}}{{(1+7\%)}^{25}} \\&= 18,42\% \text{ do Valor de Referência} \end{align*}

Imagine agora que, 6 meses depois, o governo fez alguns ajustes nas contas públicas, reduziu o risco pais e este título passou a ser anunciado com juros de 5.95%. Com isso, a recompra de títulos passou a considerar a taxa de 6% (a taxa de venda sempre é um pouco maior que a de compra). Dessa forma, o preço do título para recompra passa a ser

Precompra=Valor de Refereˆncia(1+6%)24,5=23,99% do Valor de Refereˆncia \begin{align*} P_{recompra} &= \frac{\text{Valor de Referência}}{{(1+6\%)}^{24,5}} \\&= 23,99\% \text{ do Valor de Referência}\ \end{align*}

Logo, em 6 meses, ganhamos 30% de rendimento, ou 69,5% de rendimento anualizado. Isso ainda sem considerar o reajuste pelo IPCA que corrige o valor de referência... Nada mal para um título que deveria pagar 7% ao ano, né?

Ah, mas acho que a taxa ainda cai mais...

Certo, certo... É vero que essas taxas costumam subir ou descer com bastante força. Vamos imaginar então que a taxa caiu para 4% ao ano (níveis relativamente saudáveis para a economia do país) dentro de 2 anos desde a nossa compra.

Precompra #2=Valor de Refereˆncia(1+4%)23=40,57% do Valor de Refereˆncia\begin{align*} P_{\text{recompra \#2}} &= \frac{\text{Valor de Referência}}{{(1+4\%)}^{23}} \\&= 40,57\% \text{ do Valor de Referência} \end{align*}

Ou seja, 120,2% de rendimento total, ou 48,4% de rendimento anualizado, ainda sem considerar o reajuste do valor de referência.

Peraí, tá muito fácil... como isso pode dar errado?

Essa talvez seja a parte que eu mais gosto nesse tipo de investimento. Caso os juro subam (ao invés de cair), seu investimento pode parecer que desvalorizou. É nessa hora que lembramos que "o combinado não sai caro". Na exata data do vencimento, o título SEMPRE vai valer exatamente o que foi contratado lá no começo: Valor de Referência + Juros do Período. A única perda (se é que podemos chamar assim) seria a de não ter investido nesses juros maiores, mas os juros comprados faziam sentido na compra (Lembra? Era o momento certo!).

Além disso, como mencionei antes, é muito difícil que economias sustentem juros altos por muito tempo sem causar maiores problemas (vide Argentina), o que significa que existe todo um sistema econômico interessado em baixá-los o tanto quanto possível. E nós aqui, surfamos essas ondas...

E aí... vai ficar de fora? Entre em contato para descobrirmos qual é o melhor título para você, e como essa estratégia se complementa ao seu planejamento financeiro!

Para mais informações

Tesouro Direto - Módulo 3 - Curso avançado do Tesouro Direto

Cálculo da Rentabilidade dos Títulos Públicos ofertados no Tesouro Direto